Nenhum filme pornô se tornou tão famoso, foi (e é) tão cultuado e capaz de influenciar tão profundamente a sociedade quanto “Garganta Profunda”.
É claro que esta fama se deu também por méritos externos ao filme. De um lado, os moralistas americanos tentando extirpar a pornografia, pegaram este filme pra Cristo. De outro, a fama de um filme tão atacado e processado criou um frisson capaz de expandir suas fronteiras para muito além do submundinho de então. Até crítica no New York Times o filme mereceu, com a alcunha de Porno Chic. Sem falar que o filme ainda apelidou o informante secreto responsável por desnudar o escândalo do Watergate.
Destacam-se ainda a prisão do ator principal e a alegação da protagonista de que foi hipnotizada e forçada a fazer as cenas de sexo.
Mas vamos nos manter distantes de tais polêmicas periféricas para falarmos do filme em si. E que é realmente muito divertido. Linda Lovelace, longe da beleza e dos excessos de maquiagem e laquê no cabelo que nos acostumamos a ver nos filmes da década de 80, transmite uma certa autenticidade à sua personagem, que sente-se infeliz por não gozar como deveria. Ao procurar um médico, ou coisa que o valha, descobre o motivo: seu clitóris se localiza na garganta. E para alcançar o prazer total, só mesmo com um pau descomunal, o que o Dr. Harry Reems, coincidentemente, possui.
Enquanto busca o homem bem-dotado com que poderá se casar, Linda aceita trabalhar como terapeuta sexual, ou coisa que o valha, vestindo-se de enfermeirinha para satisfazer fantasias sexuais.
A história é isso e não mais que isso. Mas consegue ser muito bem-humorada, com diálogos divertidos e cenas de sexo idem.
A trilha sonora também é digna de nota, principalmente a canção-título, que não sai da cabeça (epa!). E, claro, a técnica de “deep throat” de Linda eu nunca vi ser superada. A direção de Damiano é meio porca, mas funciona. O lance de intercalar o gozo de Linda com sinos, foguetes, rojões e coisas assim deixa tudo bem divertido. De resto, temos a feiosa Dolly Sharp, metendo com um ar blasé, e a iniciante Carol Connors, dando uma de enfermeira também. Mas o filme é todo de Linda, que além dos boquetes profundos, tem uma bela cena anal, carregada de expressões faciais de quem parecia estar realmente gostando da coisa.
Realmente um clássico. Um tanto esquisito, mas clássico...
Direção: Gerard Damiano
Elenco: Linda Lovelace, Dolly Sharp, Carol Connors, Harry Reems